Outros Navios

Braços tempestuosos,
profundos, atlânticos,
abraçam me liquídos em seu sal,
em torrente veias,
em silencio que atormenta
e congela o tempo
em infinita noite.
Desesperadamente,
preciso romper
a cortina turva que separa
minha mente da razão,
estou a poucos passos do meu segundo inferno
e o primeiro ainda arde em minha carne
estou a um disparo de toda minha crença

A incerteza é a droga que me consome aos poucos
quanto mais incerteza mais entorpece a mente
mas o mar não tem limites, parece.
Arde ainda esse inferno, agora por toda mente
e os sonhos caem em cinzas gris, um a um.
Estou a um disparo de toda minha crença

Ha uma vertigem de cetim sob os pés
na geografia imprecisa.
Um nome que insisto em chamar
trás, uma paz breve e um delírio febril
de seus sussurros colados em meu rosto
e assim me mantenho de pé
quando estou a um disparo de toda minha crença

Esse ópio, o poder,
quer tomar minhas forças,
meus olhos,
meu sexo,
minha mente,
meu corpo, em fim.
Pés que já quase desaprenderam andar
recusam tombar meu corpo sobre essa cova rasa.
quando ainda estou a quase um disparo da minha
crença

Work in the exhibition: Outros Navios (2023), 5', music composition as soundscape in the exhibition space. Produced and performed by snowfuks. Mix/master/guitar: Pedro Henrique da Silva Lima Poetry/lyrics: Eustáquio Neves. Courtesy of the artists